sexta-feira, 4 de abril de 2014

FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES



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O primeiro livro assinado com o pseudónimo Miguel Torga - A TERCEIRA VOZ, 1943 - é um ultimatum fundibulário aos mais indefectíveis supostos éticos da sociedade dominante, uma incursão irreverente e arrasadora da institucionalização do amor entre o homem e a mulher. "Eu sou um desses rapazes de hoje, sensíveis, cultos e complicados que fazem a desonra das gerações passadas", diz o protagonista numa carta dirigida ao pai da rapariga que desflorara num banco de pedra, sob uma tília. "Mais tarde, se me vierem perguntar as causas e os efeitos do meu procedimento, estremeço mas à noite vou ao cinema".
Ainda que o seu pensamento evolua e os supostos se compliquem, a obra de Torga nunca mais deixará de fazer transparecer que há uma santidade inalienável no "natural" de que a acção humana procede por necessidade. A moral não é mais que o conjunto de regras que a ordem estabelecida impõe ao indivíduo para que este se integre nela e a sirva. E o fundamento da moral não passa da justificação pseudofilosófica e pseudocientífica dessa ordem e desse sistema. (. . .)


SER E LER MIGUEL TORGA

FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES

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