terça-feira, 22 de julho de 2014

O SENHOR DA TERRA QUENTE




QUEM DÁ O PÃO DÁ O PAU


Estava apoquentado o Gregório. Andava a corja, como dizia, a comer-lhe as frutas e a estragar-lhe as árvores. Ainda por cima, gabavam-se disso
- Deixa estar que eu os amanho! - dizia entre dentes rangidos.
Gregório subiu as escadas cansadas da inclinação e, do lado oposto ao poço do horto onde se encontrava a mulher a regar as hortaliças, gritou:
- Ó mulher, bou à bila e bolto logo!
Pôs o chapéu e a samarra e saiu a caminho da estação que ficava a cerca de duas léguas da aldeia.
Caminhava ligeiro e decidido, enquanto congeminava:
- Bando de mal agradecidos! Corja benenosa! Eu bos amanho! . . .
Razões tinha ele de sobra para tanta raiva. Ajudava sempre os mais necessitados, sem esperar volta. E agora, faziam-lhe isto!
-Ó ti Gregório, parece qu'os melros apoisaram no seu pomar! Debem de ser boas as suas ameixas. . .
- Deixa estar qu'eu lh'hei-de cortar as asas!
(. . .)

ANTÓNIO FORTUNA

O SENHOR DA TERRA QUENTE
E OUTROS CONTOS

Capa e Desenhos - ESPIGA


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