quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES

OS DEUSES

Os deuses movem-se devagar nas suas peanhas de calcário
têm cruzadas as pernas e os dois braços
como filhos acabados de parir
sobre altares redondos e secretos

os deuses movem-se devagar com gestos insondáveis
fundidos no seu bronze
e guardam nas duras rugas cinzeladas
a asfixia removida das nossas preces de areia

escrevem nas fragas e nas nuvens o fogo das suas vontades

os deuses movem-se devagar atrás do tempo dos
desejos velozes e dos frutos
têm nos redondos olhos salientes
o alarme pontual da nossa morte

os deuses
têm o ventre cheio do barro do
nosso esquecimento.

Poema de FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES - Livro Memória Imperfeita

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