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sábado, 27 de abril de 2024
quinta-feira, 25 de abril de 2024
quarta-feira, 24 de abril de 2024
DOURO Coroado - Carta do Poeta Nuno Figueiredo
Querida Amiga Manuela,
Vimos agradecer a sua última obra, Douro Coroado, que teve a amabilidade de nos dedicar. Bem-haja por se lembrar de nós e nos associar às suas publicações.
Numa primeira leitura, o livro agora editado afirma-se-nos gritante e jubiloso hino de amor a esse território mágico, de alma secreta e sacralizada, que é o Douro. A Manuela revela-se inteira dentro dele, a um tempo génese fecunda e iniciática, observadora atenta e desfrutadora da maravilha. Recordando o soneto de Camões, também aqui se não distingue o amador do objecto amado, tal a simbiose e a entrega.
Este é, de facto, o depoimento de alguém que, através da expressão poética, se apresenta, alijados pudores e ambiguidades, como testemunho de uma paixão incondicional e sem limites.
Parabéns!
Um abraço com grande amizade e admiração,
Jú e Nuno
domingo, 14 de abril de 2024
DOURO Coroado - Estudo crítico da Dra Júlia Reis Serra
Douro Coroado, de Manuela Morais
Este livrinho, de Manuela Morais, é um cântico ao Douro, não apenas ao rio, mas à
própria região. A autora refere no Prelúdio: “Este livrinho é constituído por quatro dezenas de
poemas. Mais dois, que se expressam à parte do tema Douro Coroado, exemplificam-nos como
é essencial, fixar as memórias, a saudade e a esperança dos lugares que em profundidade nos
apaixonaram, mas muitíssimo mais importante é guardar, no coração, as pessoas que nos
amaram e privaram no nosso quotidiano”(p.10). Cada poema é composto por vinte e um
versos, número que, pela sua simbologia, representa a perfeição, a ligação entre o céu e a
terra e a sabedoria divina. Vinte e um era também o momento de atingir a maioridade e da
responsabilidade.
As raízes telúricas durienses são aqui evocadas para exprimir o trabalho árduo que o
homem padeceu ao rasgar as montanhas e transformar a terra em socalcos para produção do
néctar divino, o afamado vinho do Porto; portanto, a referência aos deuses pagãos -- Dionísio
(Baco) que desposa Ariadne, uma deusa egeia da vegetação, nomeadamente das árvores
–representa a união do casal divino. Há, por isso, poderes que excedem o natural através dos
mistérios. A terra duriense é apresentada como uma espécie de paraíso (éden paradisíaco)
serpenteada pelo Douro que participa em todos os versos ora como objeto amado, ora como
cenário de amantes que, nas suas margens, viveram, num passado distante, o seu primeiro
amor.
A conjugação dos sentimentos com a água arrasta o leitor para o nascimento do ser e
do amor e, simultaneamente, complexifica a leitura dos poemas, porquanto o sujeito poético
extravasa as emoções para o Douro, gerando uma personificação entre o eu poético, o tu e o
nós. Nesta osmose há uma triangulação amorosa visível no recurso aos determinantes e
pronomes: “Este Douro sagrado/ dá-me vida, mil anos de vida/ quando o mundo parece
terminar! /Segura-me a memória/da força do teu olhar, /a alegria do forte/abraço, / sentir o
teu peito/no meu/ a descansar…” O jogo de – este, me, teu e meu – coloca o Douro como
participante e fonte de esperança da vida do sujeito, mas assume prioritariamente o papel de
testemunho do amor entre dois amantes, ao permitir que a memória faça renascer o passado.
Assim, a interpretação direciona-se mais para o amor natural entre seres e não metafórica,
plasmada no rio. A verdade é que as designações selecionadas para o rio são tantas e tão
elevadas que a água do Douro chega a sugerir a corrente sanguínea que alimenta o corpo e o
espírito, num estado de “estranho equilíbrio/de ficar ou de partir…” (p.54).
Após as maravilhosas e misteriosas palavras dirigidas ao Douro, os poemas revelam
mais a intimidade do sujeito poético, quando este confessa que as roseiras secaram “no nosso
jardim”, revelando sofrimento com a ausência do tu “assumindo o vestígio da tua ausência”
(p.52) e, ao reconhecer o poder do Douro, suplica-lhe: “Douro, meu Douro encantado,
/ressuscita/os corpos sem vida! O amor, /o meu primeiro amor, não se pode perder, (p.56).
O Douro é nascente de esperança e incentiva o sujeito de enunciação a viver o amor
com urgência e a saborear “um cacho de uvas de moscatel”; esse Douro que foi companheiro
da infância, do amor e continua a pulsar na vida dos seus conterrâneos, é um Douro misterioso
e sagrado, como designou a autora. Mais ainda, ele foi “coroado” para simbolizar a reunião de
forças exteriores e interiores com valor ético e cósmico.
Este livrinho revela-nos a diferença entre a vida e a morte, gerando espaços de
“sentimentos de leveza” que a escrita ajuda a preencher, através da capacidade/consciência
do sujeito poder relacionar as várias sequências temporais.
Parabéns à autora!
Dra. Júlia Reis Serra
Júlia Serra
sexta-feira, 5 de abril de 2024
DOURO Coroado, de MANUELA MORAIS
Nascer, crescer, sonhar e viver com o aroma doce e perfumado do Douro molda-nos e engrandece a nossa personalidade. Confere, sem dúvida, e, sem equívoco, uma dimensão existencial firme, reafirmada na suavidade e na crença da constância dos guardiões espirituais destas terras sagradas! A vida torna-se demasiado laboriosa. Mas ao mesmo tempo despreocupada, e assegura uma total liberdade com as expectativas de uma verdadeira autonomia. Todas as ocasiões são excepcionais para impor a sua supremacia na beleza revelada, com uma paisagem privilegiada, sem ilusões e com demasiados sonhos para concretizar! Quem seria capaz de cavar montanhas inteiras com os ferros do monte e as enxadas, sem máquinas? Os nossos ancestrais sabiam muito bem o que significava realizar a árdua tarefa de transformar estas magníficas montanhas em ouro, foram sábios! Conheciam, com imensa minúcia, toda a sabedoria da alquimia de como metamorfosear as deliciosas uvas no néctar excepcional de um vinho licoroso, também chamado de generoso, e, posteriormente, de Vinho do Porto. (...)
Texto de Manuela Morais
Livro - DOURO Coroado
terça-feira, 2 de abril de 2024
DOURO Coroado, de MANUELA MORAIS
Sobre o Meu Rio Douro
Este Rio Douro é limpo, insubmisso, caudaloso,
com espessura invisível,
gravita e sustenta as videiras
mesmo no alto das montanhas.
Não é um rio qualquer,
rasga o granito como se fosse folha de papel!
Nas margens crescem vinhas sem fim,
por aqui habitam deuses abstractos,
nos pináculos voam em círculo
águias enérgicas, silenciosas,
iluminam com a sua imagem
o espaço em ascensão!
Hoje o pensamento incute
incandescência num certo olhar oculto,
pousado
no ventre inclinado das águas
impetuosas, frescas e nuas
das linhas nos ombros dos homens,
cansados,
de carregar tantos cestos
de uvas...
Poema de Manuela Morais
Livro - DOURO Coroado