terça-feira, 21 de julho de 2015

ANTÓNIO FORTUNA




(. . .)
Após o episódio da biblioteca, deitei-me deprimido. Comecei a malucar e, angustiado com o mundo, chorei. É verdade, um homem também chora para depurar as mágoas e ficar mais leve. Choram-se, tantas vezes, lágrimas que nos convencem que não conseguimos mudar o mundo.
Durante a minha lavagem sei que os quatro gatos que partilham a casa, como se fossem da família, me rodearam preocupados com o meu estado soluçante. Se eu dissesse que, quanto mais conheço os homens, mais gosto dos animais, estava a cair numa daquelas reflexões fáceis e triviais, embora, convenhamos, as verdades tenham de ser ditas na hora certa.
      Se acaso alguém, humano, me visse chorar em qualquer lugar público ficava indiferente, continuando a caminhar alheio ao meu hipotético drama. Os meus gatos não. (. . .)




ANTÓNIO FORTUNA
Livro O SÉTIMO SENTIDO



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