quarta-feira, 6 de agosto de 2014

CREPÚSCULO








A VIDA EM GUARDA




Mergulho no silêncio e não me afogo.
Tenho bóias: solidão serenidade sentimentos.
Estou parado e voo no imóvel mar do
tempo, o outono ampara-me, o sono estende-me
a mão. Afogo-me em silêncio mas não morro.


Tenho meios vitais de salvação: os meus
sentidos, cinco, adormecidos, e de outros sentidos
me socorro. Eu morro no silêncio mas
resisto, mergulho no silêncio e não me afogo.


Tenho bóias: passado evocação melancolia.
Estou cego no mundo e mal me atrevo
a guardar a palavra sob a língua. Afogo-me
em silêncio mas não morro: uma barca
subterrânea é que me guia por entranhas da
terra onde conheço apenas a matéria
de que é feito o canto luminoso da poesia.


Mergulho no silêncio e o silêncio profundo
não me afoga, antes me alivia: estou parado e
voo e plano e vivo e morro e penso: tenho
bóias: ternura aceitação desprendimento.




NUNO DE FIGUEIREDO

* PRÉMIO NACIONAL DE POESIA
FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES *

CREPÚSCULO

Capa - ESPIGA

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