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AS ESTRELAS
Os Deuses
desceram das estrelas
para me despertar.
Incrivelmente
gravaram no vento
força poderosa,
mais veloz que o pensamento,
anunciando
Primavera.
A estrela de cinco pontas
pendurada
sobre a mesa
começou a brilhar.
A água saciou-me,
o pão cozido
com sabor e aroma
trouxe-me de volta
a feliz meninice,
abençoada,
dourada.
Renovação?
Manuela Morais
Livro- Depois do AMOR
A TURISTA DE ABRIL
Era ela.
ia em camisa descalçae ninguém mais a sentiu.não olhavanem levava nadaera elapartiu de madrugada.
andou por aí estes diascabisbaixa e calada.traziapão num sacoe pediacenouras e laranjas no mercado.como tinha um buraco no vestido enão se penteava diziamque era turistaou artista do Reino Unidonão sabiam.
tinha na boca o lume inumerável de uma papoulada Turquia ou da Tailândiae nos dentes toda a neve da Sibéria ou da Finlândia.ao pisar era crioulae no bronze dos ombrosmeninalatinaou africana.flor de tremoço da Califórnia seus olhos de Herae a ciganade Granadaali à esperaao ler-lhe a sinanão leu nada.
andava meio nuadeu aos ombros ao políciaque nem lhe arrancou o nome.- "deitas as cascas na ruavai à merda"disse o guarda"mata a fomemas não sujes a cidadea multa são dois mil pausque puta de liberdade".
era ela.
dormia nos degraus das primeiras escadas quealguém lhe consentia.
era ela.
- "já foi à fava"disse o guarda que a viada janelapara os botões da farda.
Poema de FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVESLivro - MEMÓRIA IMPERFEITA
Ontem, SEXTA-FEIRA SANTA, a Igreja da Lapa
concebeu um magnífico Concerto.
O Programa foi divinal:
STABAT MATER, de HAYDN
REQUIEM, de MOZART.
Os Cantores solistas, o Coro da Sé Catedral e a
Orquestra Filarmónica das Beiras fizeram magia. . .
SEXTA-FEIRA SANTA
As trevas caíram sobre a tarde meu amor
ensopados pelo sangue dos espinhos
os meus olhos procuram sobre os montes
o perfil parado dos pinhais
dobrada sobre a terra
tu eras a torrente dos nossos serenos dias
estavas como uma rola abatida e eu cuspia ao ar
o vinagre e o fel que tu bebias
secaste as lágrimas no véu que ocultava a vergonha
do meu corpo
seguiste com o olhar o grito
e o eco do meu grito
a terra tremeu debaixo dos teus pés e fixaste
nos meus olhos empedrados
a noite que já mais uniria os nossos gestos.
Poema de FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES
Livro - ANDAMENTO
DESESPERO
Alternativa desesperada
a de ficar.
Sedativo para repousar,
suportar a dolorosa
ausência
da tua grande viagem.
Reconheço-me
na dificuldade de me adaptar,
de defrontar limitações. . .
assustada,
sem conseguir pensar,
na renovada inquietação
de me sentir
abandonada.
A vida
deixa de existir
se não me pressentir
enamorada.
Livro - Depois do AMOR
Manuela Morais