terça-feira, 29 de julho de 2014

CARLOS AURÉLIO





DOIS CRUZEIROS DE PEDRA

NA TERRA DA TARDE




1 - Em nossos dias do bimilénio e das multidões quando tudo é possível de divulgação, deliberadamente se omite a inferioridade consentida pelo significado da palavra vulgarização. Até à pessoa escolhida pela musa lhe é imposta a violência de descer aos critérios do vulgo, exigindo-se-lhe a cegueira do intelecto e o entorpecimento da alma. Ao pouco povo e ao diminuto escol que ainda resistem à hecatombe plebeia e consumista, resta-lhes a contemplação das velhas raízes do culto religioso para, a partir delas, refazerem em cultura as copas das árvores antigas. (. . .)


CARLOS AURÉLIO

CONSIDERANDO OS FILÓSOFOS

Capa - ESPIGA


terça-feira, 22 de julho de 2014

O SENHOR DA TERRA QUENTE




QUEM DÁ O PÃO DÁ O PAU


Estava apoquentado o Gregório. Andava a corja, como dizia, a comer-lhe as frutas e a estragar-lhe as árvores. Ainda por cima, gabavam-se disso
- Deixa estar que eu os amanho! - dizia entre dentes rangidos.
Gregório subiu as escadas cansadas da inclinação e, do lado oposto ao poço do horto onde se encontrava a mulher a regar as hortaliças, gritou:
- Ó mulher, bou à bila e bolto logo!
Pôs o chapéu e a samarra e saiu a caminho da estação que ficava a cerca de duas léguas da aldeia.
Caminhava ligeiro e decidido, enquanto congeminava:
- Bando de mal agradecidos! Corja benenosa! Eu bos amanho! . . .
Razões tinha ele de sobra para tanta raiva. Ajudava sempre os mais necessitados, sem esperar volta. E agora, faziam-lhe isto!
-Ó ti Gregório, parece qu'os melros apoisaram no seu pomar! Debem de ser boas as suas ameixas. . .
- Deixa estar qu'eu lh'hei-de cortar as asas!
(. . .)

ANTÓNIO FORTUNA

O SENHOR DA TERRA QUENTE
E OUTROS CONTOS

Capa e Desenhos - ESPIGA


quarta-feira, 16 de julho de 2014

TARTARUGA Editora





TARTARUGA  Editora

Porque a história da nossa literatura o impõe
e o seu objectivo final é levar aos leitores o
registo escrito do pensamento e da criatividade
que brotam de fontes inesgotáveis, aqui está, cada vez mais, mostrando a nossa língua
no seu melhor e demonstrando que é uma
língua viva comunicante, bela e com
uma identidade inquestionável.


sexta-feira, 11 de julho de 2014

FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES









Apenas o teu nome memória azul de fumo
assim as mãos vazias
apartarão melhor do tempo dos meus dias
a tua ausência sem rumo


fria corre a água da luz
sobre o teu rosto
uma luz sem o lume
fogo posto
do meu corpo
que a cor do teu olhar já não resume.




Poema de FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES


Livro MEMÓRIA IMPERFEITA



terça-feira, 8 de julho de 2014

A FOZ DAS PALAVRAS









estátua de sal






rente à minha espera
pelo meu perfil de pedra castigada
as horas arrastam o seu tédio


cada gesto vencido na recusa
do sal que me congela e me condena
vai alarmar o interior das aves


esparsos como pensamentos basilares
meus braços perduram e apontam
o sentido da viagem projectada




CLÁUDIO LIMA


A FOZ DAS PALAVRAS


Capa de ESPIGA



quinta-feira, 3 de julho de 2014

JOÃO DE DEUS RODRIGUES







O MEU GRITO


Em silêncio,
Lanço o meu grito
De sofrimento, calado na alma,
A dor que guardo no peito:
- Homens, todos os homens,
Acabem com a guerra!


Mas ninguém ouve a minha dor,
Ao ver inocentes morrer de fome,
Na riqueza da sua terra!




PASSAGENS E AFECTOS


JOÃO DE DEUS RODRIGUES